
RIO DE JANEIRO - Quando resolveu criar o roteiro de "Saramandaia" em 1976, Dias Gomes queria fazer uma crítica à Ditadura Militar que governava o Brasil de forma que os censores não conseguissem enxergar as provocações.
Sem querer, o remake estreia um momento que vai entrar para a história com milhões de pessoas indo às ruas protestar por um país melhor.
Assim como ocorreu com "Anos Rebeldes" em 1992 - quando o seriado de Gilberto Braga coincidiu com os Caras Pintadas que tiraram Fernando Collor da Presidência, a Globo estreou a novela certa no momento exato.
Panorama político à parte, a nova "Saramandaia" tem a seu favor os recursos tecnológicos que prometem impressionar os telespectadores e fazer jus a memória do criador da obra que nunca ficou satisfeito com o padrão dos efeitos especiais da versão original.
No entanto, o remake assinado por Ricardo Linhares remeteu mais aos filmes do cineasta americano Tim Burton do que ao texto recheado de realismo fantástico de de Gomes.
Estão lá Dona Redonda, o fazendeiro que coloca formiga pelo nariz, o homem que coloca o coração pela boca quando está com raiva, a menina que pega fogo, o rapaz que esconde suas asas... Tudo com uma paleta super colorida. No entanto, a produção não tem nada do universo nordestino - marca da primeira versão.
Ao se passar em um trecho indefinido do país onde o sotaque nos remete a algum lugar do Sudeste brasileiro, a história desses personagens perde parte de sua graça. A edição pesada e conservadora do projeto, deixou Bole Bole mais dura e apagou parte de seu brilho.
Com um elenco estelar, a direção poderia ousar mais e limar, por exemplo, o tom sério das falas de personagens tão exóticos. Copiar a prosódia de "A Indomada" seria uma ótima opção para o projeto.
O ritmo careta e a ideia de apresentar todos os personagens no primeiro capítulo cansou o telespectador em determinado momento.
Assim como ocorreu com "Gabriela", a expectativa criada em torno do remake pode ter atrapalhado em um primeiro momento. Tomara que autor e diretor consigam encontrar o tom exato do folhetim e apagar a frustração da estreia.
Com os personagens criados especialmente para Fernanda Montenegro e Tarcísio Meira, Linhares provou que só tem a somar à turma de Bole-Bole. Vamos aguardar os próximos capítulos!
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